Parecendo prognosticar o status quo futuro, Arthur Schopenhauer advertia: “O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem”. Mouco ao conselho filosofal, adotando a máxima capitalista, Tempo é dinheiro, o homem pós-moderno sacrifica sua saúde buscando o favor de Mamom.

Fatores teológicos parecem ser os maiores moldadores da mentalidade cristã sobre a saúde. Inábeis em equilibrar os princípios metafísicos com as responsabilidades terrenas, alguns cristãos postam-se relapsos nos cuidados com a saúde confundindo as esferas de ação da responsabilidade humana e do favor divino. Interpretando o Espírito Santo como “doador de invulnerabilidade salutar”, multiplicam-se desumanamente em dezenas de atividades concomitantes até descobrirem que criaram uma kryptonita gospel: sua própria agenda. Esgotados, assistem suas forças vitais esvaindo-se como uma planta podada de sua raiz.

“Puseram-me por guardas de vinhas, mas a vinha que me pertencia não guardei” constatou a Sulamita (Ct 1.6).

 

A saúde é dom precioso que deve ser cuidada por mordomos fiéis. “Dá contas da tua mordomia” (Lc 16.2) é a ordem do Senhor aos seus mordomos. Desde a desobediência adâmica, a saúde do homem fenece paulatinamente desde seu nascimento, em maior ou menor escala conforme seu cuidado com ela. A promessa escatológica aponta para saúde plena no novo céu e terra com a árvore da vida dando seu fruto e sua folha servindo de saúde para as nações. Dentre tantas construções teológicas hodiernas, uma pertinente e necessária seria uma teologia da saúde, a fim de minuciosamente ser examinada a vontade de Deus revelada nas Escrituras acerca da saúde. Os textos acima, com tantos outros, podem servir de subsídio para tal.

Segundo o pastor Ulisses Torres, educador físico e mestre em ministérios: “Cuidar da saúde pessoal é uma forma de adoração ao Senhor. Preservar o nosso corpo através da prática de atividades físicas periódicas é uma forma de demonstrarmos nosso amor a Deus. Por isso, faz-se necessário que o servo de Deus e a Igreja do Senhor desenvolvam atividades para o cuidado com a saúde. O zelo pelo templo do Espírito demonstra nosso amor pelo Criador”. Luiz Garcia, da Sociedade Bíblica do Brasil cerra fileira com Torres teologicamente: “Negligenciando sua saúde, os ministros do evangelho desconsideram a perspectiva teológica de que são templo do Espírito Santo e, como tal, devem cuidar deste mister”. Entretanto, diferentemente de Torres considera que os pastores, de forma geral, têm dedicado uma atenção maior à sua saúde hoje do que outrora.

Dieta alimentar mais saudável e prática constante de exercícios são conhecidos elementos fundamentais para uma boa saúde, mas não são o suficiente. Readequação da agenda, reajuste de prioridades, repouso semanal e férias, cultivo de amizades e tempo para a família são fatores preponderantes para uma boa saúde.

“A saúde é como a verdadeira amizade: o seu valor só é conhecido quando a perdemos” (Charles Colton).

 

Que este pensamento de Colton não seja experimentado em nossa prática de vida.

Sobre o autor

Pr. Henrique Araujo

Pr. Henrique Araujo

Deão do Seminário Teológico Betel

Pastor Henrique Araujo casado com Sarah Araujo, é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Betel, Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em Ministérios Globais pelo Seminário Teológico Betel, Bacharel e Licenciado em Letras: Português-Grego pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, PhD em Teologia pelo Trinity Theological Seminary and College of the Bible. É professor da graduação e pós-graduação, e Deão do Seminário Teológico Betel, e do Centro de Formação Teológica Metodista.

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