Prolegômenos…
Léthe era o nome do rio do esquecimento na antiga mitologia grega. Segundo os helenos, ao sair deste mundo, os homens nele banhavam-se para se esquecerem de seus feitos. Etimologicamente, Alétheia remonta ao rio. Unindo o prefixo a, que representa privação, ao termo lethe, o termo grego Alétheia é traduzido em português como “verdade”, remontando àquilo que “não pode ser esquecido”. Mas, conceitualmente, o que é a verdade?
Que é a verdade?
Esta foi a pergunta feita por Pilatos a Jesus. Por que Jesus não respondeu a Pilatos, que lhe perguntou sobre a verdade (Jo 18.38), mas respondeu aos Seus discípulos, que não lhe perguntaram o que é a verdade (Jo 14.6)? Porque quando a verdade está concretizada clara e patente diante de alguém que não quer crer nela, nada do que se diga poderá adiantar. Lembrando Gregório Magno: “A verdade não é conhecida enquanto não for amada”. A verdade é o que é. É essência. É a representação imagética que corresponde à essência daquilo que o é. No Cristianismo, entende-se que a verdade não é apenas uma ideia, mas é uma pessoa, que se encarnou e habitou entre nós: Cristo, o Deus absoluto. Mas há quem relativize as coisas…
Tudo é relativo?
O relativismo é a perspectiva epistemológica que repudia qualquer valor ou verdade absoluta, afirmando a relatividade do conhecimento. É, contudo, um absurdo lógico. O vernáculo poderá ajudar a compreender melhor: Observe-se o raciocínio de Luiz Fernando Veríssimo: “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro, certo”? Pode-se pensar em raciocínio semelhante acerca do relativismo, apontando-se dos motivos pelos quais a premissa intituladora não pode ser verdadeira: (1) Se “tudo é relativo” é verdadeiro, então a sentença se anula por si só, pois há um absoluto, que é a própria sentença, mostrando que nem tudo é relativo por haver um absoluto; (2) Se “tudo é relativo” é verdadeiro, novamente a sentença se anula por si só, pois, para fazer jus à proposta, ela também deve ser relativa, então ela não pode ser aceita como verdade absoluta. Destarte, “tudo é relativo” é sentença absurda por si só. Tem que haver absolutos.Diante disto, que fazer?
Que fazer?
Se há absolutos, e o relativismo é um absurdo lógico, que fazer? Seguem quatro sugestões: 1 – Manter convicções sem fazer imposições. Se o tempo é relativista, mas existem absolutos, é fundamental não se deixar levar pelo tempo. Ter convicções não é vergonhoso. Vergonhosa é a covardia travestida de tolerância da pusilanimidade daquele que, querendo ficar bem com todo mundo, asfixia e dinamita suas convicções. É ousar dizer como o cego de nascença: “Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (Jo 9.25); 2 – Reafirmar a Bíblia como referencial de verdade absoluta. Se o mundo não é um pântano relativista de incertezas, urge a reafirmação de fundamentos, dentre os quais, a renovada ênfase na Bíblia como Palavra de Deus: “Na verdade, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo” (Sl 11.3)? 3 – Crer para que possa entender (Fides quaeres intellectum). Este foi o lema do escolástico Anselmo. O Autor de Hebreus lembra que há coisas que só se entendem pela fé: “Pela fé, entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados…” (Hb 11.3). Que tal, à luz do supracitado, é bom pensar no conselho do filósofo inglês Roger Scruton quando diz: “O homem que diz que a verdade não existe está pedindo para que você não acredite nele. Então, não acredite”. Jesus é a verdade. É o ensino prescrito por Fiódor Dostoievsky ao afirmar: “A verdade é Jesus e Jesus é a verdade. O dia em que a verdade não estiver com Jesus, eu fico com Jesus, pois a verdade é abstrata, mas Jesus é concreto”
Sobre o autor
Pr. Henrique Araujo
Deão do Seminário Teológico Betel
Pastor Henrique Araujo casado com Sarah Araujo, é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Betel, Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em Ministérios Globais pelo Seminário Teológico Betel, Bacharel e Licenciado em Letras: Português-Grego pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, PhD em Teologia pelo Trinity Theological Seminary and College of the Bible. É professor da graduação e pós-graduação, e Deão do Seminário Teológico Betel, e do Centro de Formação Teológica Metodista.