Sobre a humanidade e divindade de Cristo
“Todo homem quer ser rei; todo rei quer ser Deus; só Deus quis ser homem” refletiu Galileu Galilei. O desequilíbrio desencadeado pelo pecado dificultou ao ser humano a compreensão de assuntos paradoxais, considerando-os contraditórios. Desde os judeus ebionitas, que não criam na divindade jesuânica, até os gnósticos, que não criam na humanidade cristológica, a harmonia da natureza divina e humana de Cristo reverbera dissonante.
“O Verbo se fez carne, habitou entre nós e vimos a Sua glória (…)” (Jo 1.14).Deus se fez homem, gente, ser humano. Chorou; sorriu; se cansou; se alimentou. Sendo homem, evidenciou Deus. Sendo Deus ensinou uma humanidade que transcende o húmus e nasce no espírito: o amor da autodoação. O vínculo da perfeição (Cl 3.14) insufla a esperança para a qual aponta Sua humanidade, e semeia a fé por Sua divindade. As virtudes cardinais resplandecem diáfanas no Deus-homem Jesus Cristo.
Jesus era gente. Sendo gente foi intransigente com o pecado e indulgente ao pecador; agente da graça do Gracioso que ama gente. Sem ser negligente, Jesus mostrou que Deus ama tanto gente, que se fez gente, para mostrar para gente, que esqueceu o que é ser gente, como voltar a ser gente, na Gente perfeita que é Jesus Cristo. Mais do que conflitivas, humanidade e divindade são completivas.
O ensino da plena humanidade e divindade é considerado fundamento cristão, pilar dogmático. Destarte, variações são consideradas heréticas. Não faltaram grupos que se desvirtuaram do caminho, interpretando Jesus como um anjo, um espírito ou mero homem. No meio cristão, mais comum é a ênfase prático-doutrinária em apenas uma de suas naturezas, apesar de, teoreticamente, prezar-se pelo equilíbrio entre ambas.
Eric Metaxas, em seu Best seller, Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião, relembra que “a defesa do aspecto terreno da encarnação da fé cristã contra a idéia dualista da inferioridade do corpo em relação à alma ou ao espírito” era central na teologia de Dietrich Bonhoeffer. Para Dietrich: “Deus quer ver seres humanos, não espíritos que se esquivam do mundo”.
Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem (1Tm 2.5). Recordar e introjetar a doutrina da perfeita compleição da natureza divino-humana de Cristo auxiliará ao exercício de um Cristianismo mais concreto e menos fantasmagórico; mais bíblico e menos materialista; mais equilibrado e menos extremoso. Sejamos humanitários sem sermos humanistas. Sejamos espirituais sem sermos espiritualizantes abstratos. Aprendamos com Ele a ser gente, amar gente, equilibrando a cidadania do céu com a vivência concreta na terra; afinal: “Aquele que diz que está nEle, também deve andar como Ele andou” (1Jo 2.6).
Sobre o autor
Pr. Henrique Araujo
Deão do Seminário Teológico Betel
Pastor Henrique Araujo casado com Sarah Araujo, é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Betel, Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestre em Ministérios Globais pelo Seminário Teológico Betel, Bacharel e Licenciado em Letras: Português-Grego pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, PhD em Teologia pelo Trinity Theological Seminary and College of the Bible. É professor da graduação e pós-graduação, e Deão do Seminário Teológico Betel, e do Centro de Formação Teológica Metodista.